Apresentação
O VII Simpósio em Educação e Filosofia convida para um encontro com o pensamento-acontecimento da catástrofe como resposta a certo desassossego diante de uma quase sistemática desvitalização dos espaços formativos em razão das lógicas gestionárias, criminalizantes e securitárias que se impõem na esfera política e educacional da atualidade. Cada vez mais, sentimos que as experiências e os espaços, mas também os corpos já não nos afetam, o que leva à pergunta pelas vidas que vazam no campo da educação, mas que ainda assim rexistem.
O imaginário da catástrofe nos remete, quase sempre, aos desastres naturais ou a tragédias relacionadas a eventos funestos, o que deixa passar possíveis sentidos menores. A banalização das catástrofes fixa o nosso olhar na dimensão do tangível, o que nos incita a assumir uma postura de mero gerenciamento dos prejuízos resultantes desses eventos. Em outra direção, admitimos que o sentimento da catástrofe reside em nós como um eco longínquo que, de vez em quando, percebemos a amplitude, mas cuja origem, quase sempre, nos escapa.
No acontecimento catastrófico, quem sabe, os educadores possam se deparar com uma concepção radical de individuação e de subjetivação, despertando reflexões filosóficas e educacionais inusitadas. É com essa aposta que fazemos um convite para que nos debrucemos sobre as dimensões ínfimas da catástrofe, ressoando e conspirando a percepção de Manoel de Barros de que a própria poesia no que ela nos faz ver as coisas onde elas não estão, a poesia é também uma foram de catástrofe que pode abrir um movimento errante na vida.
Convidamos, portanto, tanto o educador como o filósofo, em seus encontros e desencontros, a habitarem na catástrofe, acolhendo o inesperado e o desconhecido. Pois, como sabemos, tanto o inesperado como o desconhecido estão em intima conexão com usos disjuntivos, ficcionais, fabulantes dos sentidos e das afecções corporais. Almejamos pensar na contramão da colonização do regime do sensível pelos dispositivos antecipatórios e securitários que interpelam os sujeitos pelo medo e pela ansiedade, criando vários modelos de risco e vigilância que visam o controle do acontecimento.
Esses dispositivos cultivam o ideal de um cidadão constrangido a fazer investimentos para eliminar os diversos perigos que o rondam, calibrando sua conduta com base em inseguranças. Um cidadão que, além disso, é incitado a se perceber como membro de uma nova espécie neuronal agenciado por meio de sofisticadas neuroasceses e biosocialidades dispostas por uma política de visualidades vigilantes, no limite, geradoras de novas formas de sofrimento.
Nesse sentido a catástrofe pode manifestar uma reserva onírica ainda a ser explorada pelas teorias pedagógicas e um território a ocupar pela Filosofia da educação, desbloqueando experiências de pensamento capazes de suspender as coordenadas que limitam a rede de relação entre espaços e tempos, sujeitos e objetos, natureza e cultura, humanidade e animalidade, comum e singular. A questão não é como evitar a catástrofe. Mas o que fazer dela, o que fazer com as variadas experiências de aniquilamento súbito dos meios materiais, das relações, das formas de subjetividade, da memória; enfim, o que fazer da eliminação dessas outras humanidades tacitamente submetidas ao dispositivo de aniquilação ontológica de outrem.
Há então que atentar então, no pensamento-acontecimento da catástrofe, para uma questão pouco colocada pelos discursos instalados no campo da Filosofia da educação, sejam eles de inspiração humanista ou pós-humanista: como viver junto?
Perguntar como viver junto significa que as múltiplas crises que nos atravessam obrigam a inventar infinitos modos de atualizar e abrir possíveis para os sentidos produzidos, na educação e na filosofia, para o acontecimento da catástrofe, questionando: Como evitar que o afeto pessimista ou otimista interdite as leituras potentes sobre o que acontece na educação? É possível um pensamento sobre a catástrofe que favoreça o imprevisível, o indeterminado, o imponderável no fazer pedagógico? É possível problematizar o acontecimento da formação humana, conectando as experiências heterogêneas implicadas no sentimento da catástrofe?
Todas essas questões reverberam as inquietações que subjazem secretamente na decisão de fazer do VII Simpósio Internacional em Educação e Filosofia um espaço-encontro para criar populações de afetos entre nós e as coisas-seres do mundo, privilegiando a figura-acontecimento da catástrofe. A intenção consiste em buscar inspiração e conspiração para a vontade de criar emaranhados e nomadismos no pensamento e nos corpos, inventando uma escuta para as promessas ainda não cumpridas da educação. A catástrofe como signo potente de tudo o que permite expressar uma atitude corajosa diante da vida, a fim de promover a força disruptiva das diferenças. Pois, como insiste Roland Barthes, a luta da educação é sempre por seu exercício, uma vez que não nos coloquemos do lado do método, mas do lado da Paidéia, ou para dizer de modo mais prudente (e provisório) do lado do não método. Esse é o nosso desejo.
Entidades promotoras:
- Oficina de Pensamento Poéticas do Cuidado e Ontologias da Resistência (UFPE)
- Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação e Filosofia (GEPEF/UNESP-Marília)
- Departamento de Administração Escolar e Planejamento Educacional (DAEPE)
- Departamento de Fundamentos Sócio-Filosóficos da Educação (DFSFE)
- Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE-UFPE)
- Programa de Pós-Graduação em Educação Contemporânea (CAA)
Apoio:
- Departamento de Educação – FCL/UNESP/Assis
- Departamento de Educação – FCT/UNESP/Presidente Prudente
- GT Filosofia da Educação – ANPED
- GT Filosofar e Ensinar a Filosofar – ANPOF
- Sociedade Lusófona de Filosofia da Educação – SOFIED
- Sociedade Brasileira de Filosofia da Educação – SOFIE
- Grupo Transversal – UNICAMP
- Departamento de Teoría e Historia de la Educación de la Universidad Complutense de Madrid
- Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais – Argentina
- Editora Vozes
Coordenação Geral:
André Gustavo Ferreira (UFPE/Recife)
Alexandre Simão de Freitas (UFPE/Recife)
Conceição Gislane Nóbrega (UFPE/CAA)
Pedro Ângelo Pagni (UNESP/Marília)
Comissão organizadora:
Adalgisa Leão Ferreira (UFPE)
Ana Claudia Ribeiro Tavares (UFPE)
Andréa Santana de Oliveira (UFPE)
Auta Souza (UFPE)
Carla Acioli Lins (CAA/UFPE)
Cleiton de Barros Nunes (UFPE)
Gelson Antonio Lopes Junior (UFPE)
Gislane Silva (UFPE)
Laila Anine Cândida da Silva (UFPE)
Lucinalva Andrade Ataíde de Almeida (CAA/UFPE)
Renata Camargo (UFPE)
Ridivaldo Procópio (UFPE)
Sidney Carlos Rocha da Silva (UFPE)
Silas Carlos Rocha da Silva (UFPE)
Talita Maria César Nascimento (UFPE)
Wellington Pinheiro (UFPE)
Comissão Científica:
Allene Carvalho Lage (CAA/UFPE)
Alexandre Filordi de Carvalho (UNIFESP)
Alexandre Simão de Freitas (UFPE)
Alonso Bezerra de Carvalho (UNESP/Assis)
Antônio Joaquim Severino (UNINOVE)
Carla Acioli Lins (CAA/UFPE)
Carlos Skliar (FLACSO – Argentina)
Cláudio Roberto Brocanelli (UNESP/Marília)
Conceição Gislane Nóbrega (UFPE/CAA)
Diego Pineda (UJ – Colômbia)
Divino José da Silva (UNESP/Presidente Prudente)
Everaldo Fernandes da Silva (CAA/UFPE)
Fernando Bárcena Orbe (UCM – Espanha)
Lucinalva Andrade Ataíde de Almeida (CAA/UFPE)
Márcio Danelon (UFU)
Maria Betânia Santiago (CAA/UFPE)
Maximiliano Valerio López (UFJF)
Olga Grau (UC – Chile)
Oscar Pulido Cortes (UPTC – Colômbia)
Paula Ramos de Oliveira (UNESP/Araraquara)
Pedro Ângelo Pagni (UNESP/Marília)
Rodrigo Barbosa Lopes (UNESP/Presidente Prudente)
Rodrigo Pelloso Gelamo (UNESP/Marília)
Sandro Guimarães de Salles (CAA/UFPE)
Sílvio Gallo (UNICAMP)
Tarcísio Jorge Santos Pinto (UFJF)
Vandeí Pinto (UNESP/Marília)
Walter Omar Kohan (UERJ)
Wanderson Flor de Nascimento (UNB)
O imaginário da catástrofe nos remete, quase sempre, aos desastres naturais ou a tragédias relacionadas a eventos funestos, o que deixa passar possíveis sentidos menores. A banalização das catástrofes fixa o nosso olhar na dimensão do tangível, o que nos incita a assumir uma postura de mero gerenciamento dos prejuízos resultantes desses eventos. Em outra direção, admitimos que o sentimento da catástrofe reside em nós como um eco longínquo que, de vez em quando, percebemos a amplitude, mas cuja origem, quase sempre, nos escapa.
No acontecimento catastrófico, quem sabe, os educadores possam se deparar com uma concepção radical de individuação e de subjetivação, despertando reflexões filosóficas e educacionais inusitadas. É com essa aposta que fazemos um convite para que nos debrucemos sobre as dimensões ínfimas da catástrofe, ressoando e conspirando a percepção de Manoel de Barros de que a própria poesia no que ela nos faz ver as coisas onde elas não estão, a poesia é também uma foram de catástrofe que pode abrir um movimento errante na vida.
Convidamos, portanto, tanto o educador como o filósofo, em seus encontros e desencontros, a habitarem na catástrofe, acolhendo o inesperado e o desconhecido. Pois, como sabemos, tanto o inesperado como o desconhecido estão em intima conexão com usos disjuntivos, ficcionais, fabulantes dos sentidos e das afecções corporais. Almejamos pensar na contramão da colonização do regime do sensível pelos dispositivos antecipatórios e securitários que interpelam os sujeitos pelo medo e pela ansiedade, criando vários modelos de risco e vigilância que visam o controle do acontecimento.
Esses dispositivos cultivam o ideal de um cidadão constrangido a fazer investimentos para eliminar os diversos perigos que o rondam, calibrando sua conduta com base em inseguranças. Um cidadão que, além disso, é incitado a se perceber como membro de uma nova espécie neuronal agenciado por meio de sofisticadas neuroasceses e biosocialidades dispostas por uma política de visualidades vigilantes, no limite, geradoras de novas formas de sofrimento.
Nesse sentido a catástrofe pode manifestar uma reserva onírica ainda a ser explorada pelas teorias pedagógicas e um território a ocupar pela Filosofia da educação, desbloqueando experiências de pensamento capazes de suspender as coordenadas que limitam a rede de relação entre espaços e tempos, sujeitos e objetos, natureza e cultura, humanidade e animalidade, comum e singular. A questão não é como evitar a catástrofe. Mas o que fazer dela, o que fazer com as variadas experiências de aniquilamento súbito dos meios materiais, das relações, das formas de subjetividade, da memória; enfim, o que fazer da eliminação dessas outras humanidades tacitamente submetidas ao dispositivo de aniquilação ontológica de outrem.
Há então que atentar então, no pensamento-acontecimento da catástrofe, para uma questão pouco colocada pelos discursos instalados no campo da Filosofia da educação, sejam eles de inspiração humanista ou pós-humanista: como viver junto?
Perguntar como viver junto significa que as múltiplas crises que nos atravessam obrigam a inventar infinitos modos de atualizar e abrir possíveis para os sentidos produzidos, na educação e na filosofia, para o acontecimento da catástrofe, questionando: Como evitar que o afeto pessimista ou otimista interdite as leituras potentes sobre o que acontece na educação? É possível um pensamento sobre a catástrofe que favoreça o imprevisível, o indeterminado, o imponderável no fazer pedagógico? É possível problematizar o acontecimento da formação humana, conectando as experiências heterogêneas implicadas no sentimento da catástrofe?
Todas essas questões reverberam as inquietações que subjazem secretamente na decisão de fazer do VII Simpósio Internacional em Educação e Filosofia um espaço-encontro para criar populações de afetos entre nós e as coisas-seres do mundo, privilegiando a figura-acontecimento da catástrofe. A intenção consiste em buscar inspiração e conspiração para a vontade de criar emaranhados e nomadismos no pensamento e nos corpos, inventando uma escuta para as promessas ainda não cumpridas da educação. A catástrofe como signo potente de tudo o que permite expressar uma atitude corajosa diante da vida, a fim de promover a força disruptiva das diferenças. Pois, como insiste Roland Barthes, a luta da educação é sempre por seu exercício, uma vez que não nos coloquemos do lado do método, mas do lado da Paidéia, ou para dizer de modo mais prudente (e provisório) do lado do não método. Esse é o nosso desejo.
Entidades promotoras:
- Oficina de Pensamento Poéticas do Cuidado e Ontologias da Resistência (UFPE)
- Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação e Filosofia (GEPEF/UNESP-Marília)
- Departamento de Administração Escolar e Planejamento Educacional (DAEPE)
- Departamento de Fundamentos Sócio-Filosóficos da Educação (DFSFE)
- Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE-UFPE)
- Programa de Pós-Graduação em Educação Contemporânea (CAA)
Apoio:
- Departamento de Educação – FCL/UNESP/Assis
- Departamento de Educação – FCT/UNESP/Presidente Prudente
- GT Filosofia da Educação – ANPED
- GT Filosofar e Ensinar a Filosofar – ANPOF
- Sociedade Lusófona de Filosofia da Educação – SOFIED
- Sociedade Brasileira de Filosofia da Educação – SOFIE
- Grupo Transversal – UNICAMP
- Departamento de Teoría e Historia de la Educación de la Universidad Complutense de Madrid
- Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais – Argentina
- Editora Vozes
Coordenação Geral:
André Gustavo Ferreira (UFPE/Recife)
Alexandre Simão de Freitas (UFPE/Recife)
Conceição Gislane Nóbrega (UFPE/CAA)
Pedro Ângelo Pagni (UNESP/Marília)
Comissão organizadora:
Adalgisa Leão Ferreira (UFPE)
Ana Claudia Ribeiro Tavares (UFPE)
Andréa Santana de Oliveira (UFPE)
Auta Souza (UFPE)
Carla Acioli Lins (CAA/UFPE)
Cleiton de Barros Nunes (UFPE)
Gelson Antonio Lopes Junior (UFPE)
Gislane Silva (UFPE)
Laila Anine Cândida da Silva (UFPE)
Lucinalva Andrade Ataíde de Almeida (CAA/UFPE)
Renata Camargo (UFPE)
Ridivaldo Procópio (UFPE)
Sidney Carlos Rocha da Silva (UFPE)
Silas Carlos Rocha da Silva (UFPE)
Talita Maria César Nascimento (UFPE)
Wellington Pinheiro (UFPE)
Comissão Científica:
Allene Carvalho Lage (CAA/UFPE)
Alexandre Filordi de Carvalho (UNIFESP)
Alexandre Simão de Freitas (UFPE)
Alonso Bezerra de Carvalho (UNESP/Assis)
Antônio Joaquim Severino (UNINOVE)
Carla Acioli Lins (CAA/UFPE)
Carlos Skliar (FLACSO – Argentina)
Cláudio Roberto Brocanelli (UNESP/Marília)
Conceição Gislane Nóbrega (UFPE/CAA)
Diego Pineda (UJ – Colômbia)
Divino José da Silva (UNESP/Presidente Prudente)
Everaldo Fernandes da Silva (CAA/UFPE)
Fernando Bárcena Orbe (UCM – Espanha)
Lucinalva Andrade Ataíde de Almeida (CAA/UFPE)
Márcio Danelon (UFU)
Maria Betânia Santiago (CAA/UFPE)
Maximiliano Valerio López (UFJF)
Olga Grau (UC – Chile)
Oscar Pulido Cortes (UPTC – Colômbia)
Paula Ramos de Oliveira (UNESP/Araraquara)
Pedro Ângelo Pagni (UNESP/Marília)
Rodrigo Barbosa Lopes (UNESP/Presidente Prudente)
Rodrigo Pelloso Gelamo (UNESP/Marília)
Sandro Guimarães de Salles (CAA/UFPE)
Sílvio Gallo (UNICAMP)
Tarcísio Jorge Santos Pinto (UFJF)
Vandeí Pinto (UNESP/Marília)
Walter Omar Kohan (UERJ)
Wanderson Flor de Nascimento (UNB)