Eixos temáticos
1) Poéticas da sobrevivência e do inacabado: educar sentindo o inesperado
Dada a injunção para pensar encontros potentes com a catástrofe, esse eixo temático aborda as transformações exigidas do processo de ensinar e aprender, uma vez que, no acontecimento catastrófico, a imaginação e os sentidos adquirem primazia epistêmica em relação ao desconhecido e ao inesperado, fazendo as palavras explodirem. Assim, a ideia é acolher reflexões que tematizem os modos como o encontro com a alteridade contribui para desestabilizar o equilíbrio precário da vida, tornando inexpressivas a experiência da transmissão e da escritura. Pensar então como quem transforma o obstáculo em trampolim, a resistência do ar em possibilidade de voo, a terra em mundo, a água em navegação, o fogo em operador de alquimias. Filosofar em educação como quem detona o fundo aberrante de onde as experiências se transmutam em matéria de formação. Atuar em educação como uma projeção no regime do sensível onde emerge a palavra humana, deglutindo, nesse percurso, um princípio pedagógico enigmático-incendiário: “a infância é uma faca enterrada na garganta”.
2) Para um novo uso dos corpos em educação: identidades precárias e políticas das diferenças
Esse eixo temático almeja tocar nas margens explosivas e subversivas provocadas pelos desencontros dos corpos na teoria e na prática educativa, problematizando em que medida a experiência entre corpos permite modificar as potências de articulação do comum ao jogar com nascimentos, chegadas e associações não programadas. Desde Nietzsche, mesmo considerando os desdobramentos na obra de Foucault e seu conceito de biopolítica, a materialidade dos corpos não havia ocupado tamanha centralidade. Nesse sentido, almeja-se pensar nas margens, ou seja, em torno da fragilidade dos corpos diante dos aparatos estatais de poder e dos dispositivos de regulação normalizadora identitárias e heteronormativas, trazendo à tona figuras erráticas: anormais, pervertidos, vagabundos, aleijados, desviados, deficientes e acidentados fora de toda ordem (Foucault, Deligny, Butler, Preciado, Sloterdijk, Malabou, etc.). Mas a ideia é não apenas discutir como os discursos se inscrevem (sobre) e subscrevem os corpos no campo da educação, mas também as possibilidades de transgressão que eles mesmos abrem desde sua precariedade imanente.
3) Biossocialidades, autoajuda cerebral e empresariamento de si
A proposta desse eixo temático é dupla. Por um lado, estabelecer uma agenda crítica de discussão seja através da filosofia da neurociência (N. Rose), seja através da ontologia do acidente (C. Malabou), explorando o fenômeno da neuroascese no âmbito da chamada “nova cultura somática” (F. Ortega) a fim de problematizar seus impactos para a compreensão dos processos de formação humana, mobilizando conceitos como antropotécnicas (Sloterdijk), plasticidade e devir-deficiente e suas contribuições para as representações sociais das principais noções antropológicas mobilizadas por nossas teorias filosófico-educacionais. Por outro lado, propõe integrar as ferramentas conceituais de pensadores como Foucault, Agamben e Roberto Esposito para discutir os riscos democráticos da prevenção do imprevisível seja através da legalidade imunitária seja através do empresariamento de si mesmo, desdobrando marcos de legitimação da exceção no contexto da governamentalidade neoliberal e seus dispositivos de risco e segurança que alimentam o exercício de uma soberania decisionista que dispõe o presente à exposição permanente de novas catástrofes, pois na impossibilidade tanto de negar quanto de controlar as catástrofes, o dispositivo de segurança humanitária torna toda circunstância suscetível de ser percebida como excepcional, articulando intervenções preventivas baseadas no risco de precaução e no léxico da imunidade.
4) Movimentos aberrantes do pensamento e políticas do fim do mundo
Esse eixo temático assume como questões: Para onde apontam as manifestações políticas recentes? Como enxergar a evidente recusa apresentada pelos movimentos de resistência e suas lutas no fim do mundo? A ideia é problematizar a dificuldade que as políticas de educação e sua reflexão filosófica têm para lidar com as novas formas de protestos, suas pautas e negociações inviáveis. Considera-se que a irrupção do novo precisa ser sempre domesticada e marcada pelo positivo, colocando, segundo a lógica dos meios e fins, um conjunto de objetivos que, no fim das contas, efetivam um projeto de poder. Admite-se que topamos aqui também com dilemas e aporias que conduzem, muitas vezes, as posições extremadas e extremistas. Os próprios episódios de ocupação recentes no Brasil mostram que não são somente os afetos revolucionários que movem as multidões: o ressentimento e a raiva também agregam. A questão é delicada, mas sua tematização é urgente ao nos permitir ver de outros modos o que (nos) acontece. Pensar o acontecimento e a catástrofe aqui pode ser também pensar o menor (Deleuze) ou a inoperosidade (Agamben). Talvez o não dos novos movimentos não seja uma falta a suprir, mas a recusa que é, como um menos, devir revolucionário.
5) A Filosofia da educação como experimentação e agência cosmopolítica
Esse eixo temático questiona a possibilidade de romper com a orientação majoritariamente etnocêntrica dos nossos sistemas de pensamento, tendo como horizonte o debate recente em torno do chamado Antropoceno, a fim de tematizar as destruições (físicas, simbólicas, espirituais) dos múltiplos povos que povoam os territórios humanos e não humanos. Considera-se que o Antropoceno constitui um intercessor do qual é difícil escapar não apenas porque anuncie o “tempo das catástrofes” (Isabelle Stengers), mas porque ressignifica os sentidos que damos a elas e a maneira como novas sensibilidades da alteridade podem emergir (Bruno Latour, Viveiros de Castro). Trata-se então de problematizar o narcisismo antropocêntrico ainda vigente nos discursos políticos, filosóficos ou pedagógicos. O eixo temático almeja mobilizar imagens oriundas seja da ficção científica, seja da especulação filosófica para resgatar do esquecimento modos de existência e modos de pensamento que a modernidade relegou como algo da ordem do primitivo, do mítico, do atrasado.
Dada a injunção para pensar encontros potentes com a catástrofe, esse eixo temático aborda as transformações exigidas do processo de ensinar e aprender, uma vez que, no acontecimento catastrófico, a imaginação e os sentidos adquirem primazia epistêmica em relação ao desconhecido e ao inesperado, fazendo as palavras explodirem. Assim, a ideia é acolher reflexões que tematizem os modos como o encontro com a alteridade contribui para desestabilizar o equilíbrio precário da vida, tornando inexpressivas a experiência da transmissão e da escritura. Pensar então como quem transforma o obstáculo em trampolim, a resistência do ar em possibilidade de voo, a terra em mundo, a água em navegação, o fogo em operador de alquimias. Filosofar em educação como quem detona o fundo aberrante de onde as experiências se transmutam em matéria de formação. Atuar em educação como uma projeção no regime do sensível onde emerge a palavra humana, deglutindo, nesse percurso, um princípio pedagógico enigmático-incendiário: “a infância é uma faca enterrada na garganta”.
2) Para um novo uso dos corpos em educação: identidades precárias e políticas das diferenças
Esse eixo temático almeja tocar nas margens explosivas e subversivas provocadas pelos desencontros dos corpos na teoria e na prática educativa, problematizando em que medida a experiência entre corpos permite modificar as potências de articulação do comum ao jogar com nascimentos, chegadas e associações não programadas. Desde Nietzsche, mesmo considerando os desdobramentos na obra de Foucault e seu conceito de biopolítica, a materialidade dos corpos não havia ocupado tamanha centralidade. Nesse sentido, almeja-se pensar nas margens, ou seja, em torno da fragilidade dos corpos diante dos aparatos estatais de poder e dos dispositivos de regulação normalizadora identitárias e heteronormativas, trazendo à tona figuras erráticas: anormais, pervertidos, vagabundos, aleijados, desviados, deficientes e acidentados fora de toda ordem (Foucault, Deligny, Butler, Preciado, Sloterdijk, Malabou, etc.). Mas a ideia é não apenas discutir como os discursos se inscrevem (sobre) e subscrevem os corpos no campo da educação, mas também as possibilidades de transgressão que eles mesmos abrem desde sua precariedade imanente.
3) Biossocialidades, autoajuda cerebral e empresariamento de si
A proposta desse eixo temático é dupla. Por um lado, estabelecer uma agenda crítica de discussão seja através da filosofia da neurociência (N. Rose), seja através da ontologia do acidente (C. Malabou), explorando o fenômeno da neuroascese no âmbito da chamada “nova cultura somática” (F. Ortega) a fim de problematizar seus impactos para a compreensão dos processos de formação humana, mobilizando conceitos como antropotécnicas (Sloterdijk), plasticidade e devir-deficiente e suas contribuições para as representações sociais das principais noções antropológicas mobilizadas por nossas teorias filosófico-educacionais. Por outro lado, propõe integrar as ferramentas conceituais de pensadores como Foucault, Agamben e Roberto Esposito para discutir os riscos democráticos da prevenção do imprevisível seja através da legalidade imunitária seja através do empresariamento de si mesmo, desdobrando marcos de legitimação da exceção no contexto da governamentalidade neoliberal e seus dispositivos de risco e segurança que alimentam o exercício de uma soberania decisionista que dispõe o presente à exposição permanente de novas catástrofes, pois na impossibilidade tanto de negar quanto de controlar as catástrofes, o dispositivo de segurança humanitária torna toda circunstância suscetível de ser percebida como excepcional, articulando intervenções preventivas baseadas no risco de precaução e no léxico da imunidade.
4) Movimentos aberrantes do pensamento e políticas do fim do mundo
Esse eixo temático assume como questões: Para onde apontam as manifestações políticas recentes? Como enxergar a evidente recusa apresentada pelos movimentos de resistência e suas lutas no fim do mundo? A ideia é problematizar a dificuldade que as políticas de educação e sua reflexão filosófica têm para lidar com as novas formas de protestos, suas pautas e negociações inviáveis. Considera-se que a irrupção do novo precisa ser sempre domesticada e marcada pelo positivo, colocando, segundo a lógica dos meios e fins, um conjunto de objetivos que, no fim das contas, efetivam um projeto de poder. Admite-se que topamos aqui também com dilemas e aporias que conduzem, muitas vezes, as posições extremadas e extremistas. Os próprios episódios de ocupação recentes no Brasil mostram que não são somente os afetos revolucionários que movem as multidões: o ressentimento e a raiva também agregam. A questão é delicada, mas sua tematização é urgente ao nos permitir ver de outros modos o que (nos) acontece. Pensar o acontecimento e a catástrofe aqui pode ser também pensar o menor (Deleuze) ou a inoperosidade (Agamben). Talvez o não dos novos movimentos não seja uma falta a suprir, mas a recusa que é, como um menos, devir revolucionário.
5) A Filosofia da educação como experimentação e agência cosmopolítica
Esse eixo temático questiona a possibilidade de romper com a orientação majoritariamente etnocêntrica dos nossos sistemas de pensamento, tendo como horizonte o debate recente em torno do chamado Antropoceno, a fim de tematizar as destruições (físicas, simbólicas, espirituais) dos múltiplos povos que povoam os territórios humanos e não humanos. Considera-se que o Antropoceno constitui um intercessor do qual é difícil escapar não apenas porque anuncie o “tempo das catástrofes” (Isabelle Stengers), mas porque ressignifica os sentidos que damos a elas e a maneira como novas sensibilidades da alteridade podem emergir (Bruno Latour, Viveiros de Castro). Trata-se então de problematizar o narcisismo antropocêntrico ainda vigente nos discursos políticos, filosóficos ou pedagógicos. O eixo temático almeja mobilizar imagens oriundas seja da ficção científica, seja da especulação filosófica para resgatar do esquecimento modos de existência e modos de pensamento que a modernidade relegou como algo da ordem do primitivo, do mítico, do atrasado.